ARACAJU/SE, 31 de março de 2025 , 12:38:47

Depois do curso ginasial

Até a segunda série, o que faríamos todos depois da conclusão do curso ginasial não participava de nosso cardápio. A vida prosseguia na reiteração hoje do que foi feito no dia de ontem, as aulas durante o dia, pela manhã, ou pela tarde, e a noite, na maioria das vezes, a praça da Igreja, um banco, alguns sentados, outros em pé, o papo abarcando músicas, as últimas novidades, ou, então, ida ao Bar Brasília, outro centro de aglutinação, onde a conversa se centralizava no futebol, no bolo de placar, ou, enfim, o cinema. No dia seguinte, tudo se repetia. A reiteração não enchia o saco de ninguém.

Na terceira série, enfim, se acrescia ao roteiro da vida o Colégio Estadual de Sergipe, a mudança para Aracaju, as preocupações de alguns acerca do sítio onde fariam rancho, os temidos professores dos cursos científico e clássico, conversa que se alongava na quarta série, os que estudavam na capital, pioneiros, portanto, ditando cátedras, enquanto o silêncio tomava conta dos quartanistas, na curiosidade de ouvir, matutando projetos, extasiados com as exposições, a expectativa de viver tudo aquilo que os mais velhos discorriam. Nesses momentos, não se fofocava, nem se olhava para menina alguma que passasse, mesmo que fosse parecida com Marta Rocha ou Brigitte Bardot.

Contudo, dois fatos deveriam ser ultrapassados. Um, a festa de despedida que muitas turmas promoviam na própria classe, onde a bebida grassava, deixando alguns mais animados que outros, embora uns poucos fossem às lágrimas. A minha não promoveu dita festa, nem ninguém reclamou. Na de Bosco, mesmo ano, uma garrafa foi jogada, quase acertando uma funcionária que foi lá ver o barulho. O outro, a formatura, começando com missa na Igreja Matriz, seguindo com o baile à noite. Era o momento solene do trajo a rigor, a mulherada maquiada. Eu e Bosco não participamos.

Em março seguinte, a casa, que nos acolheu por quatro anos, nos dispensou. Representou apenas o pontapé inicial. O mais, cursos secundário e superior, ficou por conta de cada um, de acordo com a velocidade dos ventos. Dos professores, sete ainda estão vivos, bem vivos. Oxalá essa longevidade também nos contamine.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras